Qual o problema?

O que mais me perguntavam depois de tudo o que aconteceu era “Qual o problema”.

Eu era sincero e sempre respondia. “Não sei”. Na época eu realmente não sabia, juro. Ou sabia e não queria aceitar. Não podia sabe?

E depois também sempre tem aquela coisa de enfrentar o problema. Se você admitir que tem e sabe qual é o problema, teria que enfrentá-lo. Eu não queria enfrentar problema nenhum cara. Se me deixassem quieto eu teria levado o problema para o túmulo comigo saca?

O fato é que sempre fui covarde. Sempre. Minha mãe mesmo sempre disse que eu era o bebê mais tímido do mundo. Não era bem timidez, era covardia mesmo. Sempre tive muito medo. Medo mesmo,tipo pavor entende? Medo de tudo. Medo das pessoas e do que elas poderiam dizer. Ou fazer. Ou não fazer.

Não fazer dói mais né? Quando te ignoram e não fazem nada, não te enxergam. Em mim sempre doeu mais a indiferença com que as pessoas me tratavam na adolescência do que as surras que levava de quando em vez dos valentões da escola. As surras só machucavam meu corpo,sangrava e sarava. Sumia. A indiferença marcou minha alma cara,se você pudesse ver… Mas depois teve aquilo tudo,você já sabe e tal…

Sei lá,acho que eu só me refugiei no ódio. Era esse o problema. A vida me bateu tanto que fiquei com ódio. Foi o único lugar que achei em que as pessoas não poderiam mais me machucar. Troquei o medo pelo ódio.

Claro,ela foi legal comigo. Foi mesmo. Afinal quem iria olhar para mim com carinho, amor, respeito? Foi ela.

Foi ela sim,e é até engraçado. Não é engraçado o que fiz claro,não, isso não,foi terrível. Mas é que a vida é engraçada saca? Engraçada de um modo ruim, cruel. Ela me tirou daquela coisa de ódio e desesperança que eu tinha construído para mim e me mostrou que a vida poderia ser melhor. Não muito melhor, mas um pouco melhor.

E depois disse que iria embora, que não dava mais, que eu já não era suficiente.

Esse foi o outro problema saca? Ela não deveria ter me tirado daquele lugar e depois ido embora.

Não deveria. No fim acho que foi mesmo culpa dela.

Sei lá…