Locutor Trombadinha

Com 17 anos cansei de coçar o saco e decidi arrumar algum emprego que sustentasse meus vícios adolescentes,a saber,livros e San Raphael na frente do colégio.Consegui através de um amigo que hoje é um dos DJ’s mais conhecidos aqui da região (DJ Anderson Giriba) uma vaga de operador de som em uma rádio de Criciúma.A rádio era podre,só tocava música sertaneja e até teve um episódio engraçado que custou a minha demissão.Clica aí e dá uma conferida que foi tenso.

Toda rádio faz promoções para cativar os ouvintes e essa rádio como era uma rádio bem puxada pra pobreza extrema sorteava carne,porque era patrocinada por um açougue.Não vou dizer o nome da rádio porque processo é ruim e eu não gosto mas rolava um 171 gigantesco nos sorteios.

Durante a programação o locutor anunciava o que seria sorteado no dia e os ouvintes ligavam loucamente para tentar ganhar o “5 quilos de picanha (coxão duro)” os “3 quilos de alcatra (barrigueira)” e por aí vai.Como auxiliar do locutor,operador de som,office boy,garoto de recados e escravo branco a atribuição de atender os ouvintes era minha.Entre trocar os disco de Tonico e Tinoco e Milionário e José Rico eu anotava os nomes e telefones das pessoas e numerava tudo para poder sortear depois.

É aí que entrava a pilantragem.Qual um Paulo Maluf de voz aveludada o locutor reservava alguns números para ele mesmo.Então eu ia atendendo os ouvintes e dava um número para cada um,mas do número 5 já pulava para o 7,porque o número 6 era de algum parente do locutor trombadinha ou de algum nome inventado por ele mesmo.E chegava a hora do sorteio.

“-Estamos aqui com o nosso amigo operador de som Ricardo Chicuta que vai sortear para nós o prêmio de hoje.Ricardo,qual o número sorteado?”

E eu na maior cara de pau:

“-Número 6 locutor trombadinha”

E lá ia mais uns quilos de carne para a geladeira do locutor trombadinha.O cara devia fazer uns 5 churrascos por semana,tamanha era a quantidade de carne que ganhava.Eu juro por tudo que me é mais sagrado (Cerveja Eisenbahn) que nunca levei sequer um fiapo de carne para casa.Não que tivesse alguma reserva moral quanto a isso,mas é que o esganado do locutor trombadinha pegava tudo para ele.

Se quiserem me condenar só tenho uma coisa a dizer:

Só estava cumprindo ordens.