Vou contar uma história para vocês,meus oito leitores, verem como a vida pode ser estranha as vezes.
Sou mal acabadinho, isso é inegável, mas quando tinha lá meus 13, 14 anos era bem bonitinho. Juro. Era até uma espécie de galã do colégio em que estudava. Escrevia poesias, as meninas adoravam e todas queriam “ficar” comigo.
Uma dessas meninas era muito feia, muito mesmo. Bem gordinha, óculos fundo de garrafa,tímida. Talvez a menina m ais feia que já conheci, atendia pela alcunha carinhosa de Formigão.
Qual não foi minha surpresa quando a Formigão aparece na porta da minha casa, em um domingo, com um bilhete na mão. Super nervosa, a menina suava, mal conseguia falar.
- Oi, eu vim ver o que você queria falar comigo.
E me entregou o bilhete. No papel estava escrito, assinado por mim, mas não com a minha letra, para ela ir até a minha casa tal hora, que eu queria conversar com ela, que achava ela muito bonita e tal.
Lembro que na hora amaldiçoei o FDP que tinha feito aquilo e até consegui ser mais ou menos bem educado com a menina. Disse que tinha sido brincadeira de alguém.
Ela chorou baixinho, quase nem percebi, disse que estava tudo bem, virou as costas e foi embora. Eu nunca mais vi a garota, ela nunca mais voltou para a escola. Acho que ninguém até hoje, além de mim e agora vocês 8, sabem porque.
Agora o fato estranho da vida. Eu já escrevi aqui sobre o fato de que para mim é muito fácil tirar alguém da minha vida e esquecê-la para sempre. Pessoas que antes eu amava de paixão depois de muito pouco tempo passam a significar nada. Não lembro dos nomes de algumas ex-namoradas por exemplo. Da menina que mais amei até hoje, não lembro nem da voz, nem de como nos conhecemos, nem ao menos do nome completo.
Considero isso uma falha horrorosa no meu caráter, mas também uma forma de defesa muito boa.
Mas o fato é que da Formigão eu lembro tudo. O rosto, o tom de voz, os olhos, o cabelo, o jeito de andar. Tudo. Eu a reconheceria se ela estivesse agora na minha frente.
Talvez, se naquela época eu fosse o homem que sou agora, a teria convidado para entrar, conversado direito com ela, dito que os caras eram uns babacas mesmo e até, porque não, dado um beijo na menina. Mas eu tinha 14 anos e como todo homem, dos 0 aos 30 anos somos uns moleques babacas que se importam mais com o que os amigos vão pensar do que com o bem estar do próximo. Tenho muita vergonha disso.
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